Dando continuidade ao artigo anterior, “Referências norteadoras para a jornada de Autodescobrimento: Ética (Parte 1 de 2)”, no qual trouxe o conceito de referência norteadora como sendo um “norte” de inspiração sobre o que considero ser melhor e adequado para mim e para os outros, preservando que a gente se mantenha aderente ao processo de Autodescobrimento, e apresentei a Ética como uma das referências norteadoras que adoto, agora, chegou a vez de apresentar minha outra referência: Coerência.
Sobre a Coerência….
A coerência pessoal refere-se a um estado de alinhamento interno e harmônico entre os pensamentos, crenças, valores, emoções e comportamentos de um indivíduo. Quando alguém busca coerência pessoal, posso afirmar, sem sombra de dúvida, que ali habita um ser cuidadoso para que esses aspectos centrais da existência humana se integrem o máximo possível, resultando em uma autenticidade que é percebida tanto internamente quanto pelos outros. Isso não significa dizer que o objetivo é buscar uma integração perfeita ou a ausência de conflitos internos, pois isso seria inatingível, mas sim que a pessoa seja capaz de navegar pela vida de modo que sinta ser autêntica, significativa e harmoniosa, mesmo diante de desafios, contradições e das suas próprias versões ao longo do caminho da existência.
A coerência pessoal nos leva a criar uma base de tranquilidade e confiança interna, que ao ser praticada, intensifica uma melhor compreensão de quem somos e nossas manifestações. Esse alinhamento remove desarmonia interna promovendo saúde mental e bem-estar emocional, mesmo quando somos confrontados com as incertezas da vida. Sabe aquele estado desconfortável em que ficamos quando agimos de uma forma que não nos representa ou falamos coisas que sabemos não refletirem o que pensamos? É o que a falta de coerência pessoal gera, além das consequências da nossa conduta.
Saindo da esfera do efeito individual, não pensamos muito sobre o que as pessoas fazem para conquistarem nossa confiança ou o que fazemos para despertar a confiança nos outros. Avaliando com mais atenção, verá que a coerência é um dos fatores que influenciam a confiança. Nas nossas interações, demonstramos como somos por meio de manifestações próprias que, ao se manterem consistentes, indicam o que esperar de nós. Por não queremos ser surpreendidos com atitudes contraditórias das pessoas, que podem ser para o bem e para o mal, há uma tendência de nos afastarmos daquelas que são incoerentes. Por isso, adotar uma coerência pessoal estabelece uma base sólida para relacionamentos mais significativos e confiáveis, e, por tabela, ambientes mais harmoniosos e construtivos.
A nossa falta de consciência sobre uma integração harmônica entre pensamentos, crenças, valores, emoções e comportamentos impacta você, suas relações e seus ambientes. Sobre ambientes, gosto de exemplificar aquele em que passamos uma parte importante da vida enquanto estamos despertos: o nosso trabalho e suas situações cotidianas, onde a falta de coerência pessoal se faz presente e com a qual, infelizmente, convivemos. Vamos a elas:
- Valores Desalinhados entre o que está “pendurado na parede” e condutas da alta direção, liderança e colaboradores com demonstrações contrárias ou omissas, criando um ambiente de ceticismo e desconfiança.
- Objetivos Desalinhados na alta liderança quando há o incentivo, consciente ou inconscientemente, da defesa do “meu território” independente das circunstâncias, edificando silos e contrariando o olhar para o todo que é o direcionamento esperado qualquer organização.
- Frequentes mudanças nos planos da empresa com sobreposição de motivos e objetivos, às vezes contraditórios, causando descredibilidade e instabilidade.
- Falta de posicionamento da liderança ao transferir sua responsabilidade de decidir para outros – seu superior, comitês, outras áreas – ou se isentar das situações organizacionais difíceis demonstrando fraqueza e falta de protagonismo.
- Favoritismo manifestado, explicita ou implicitamente, na manutenção de profissionais inaptos na função, contradizendo uma alegada cultura de meritocracia.
Sabemos bem o quanto situações como essas minam qualquer tentativa de criar ambientes de trabalhos construtivos e harmoniosos.
A coerência pessoal se aplica a cada um de nós que, em conjunto, estabelecemos os sistemas aos quais estamos inseridos. Ter consciência de buscar essa harmonia interior também nos faz contribuir para um entorno melhor já é um “senhor” estímulo para que se adote a coerência pessoal para a vida. Imagine como o mundo seria se, minimamente, o nosso falar e fazer estivessem alinhados, ou seja, ao falarmos confiar que faríamos e ao fazer, confiar que falaríamos?
- “Somente os tolos exigem perfeição; os sábios se contentam com a coerência.” – Provérbio Chinês
- “Agir conforme aquilo que se fala, alinhar discurso e prática, além de ser uma postura ética, é um sinal de autenticidade.” – Mario Sergio Cortella
Se você achou esse papo de referência norteadora complicado ou difícil, considere partir para o simples, que é seguir a regrinha de ouro: Faça com os outros o que gostaria que fizessem com você! Nessa versão raiz, agir conscientemente da forma que você entende correta já representa usar o seu repertório de valores – aqueles que obteve na sua educação familiar, escolar, religiosa, social…- para promover o melhor para si, suas relações e seus ambientes. Essa é a sua maior contribuição: fazer a sua parte!
Que venham muitas surpresas e descobertas na sua jornada de evolução e…aproveite o processo!